01 julho 2012

O sitio onde se escondem as emoções

A certa altura envelhece-se sem ressentimento.

Aprendi isto com a Dona Teresa. A Dona Teresa era uma senhora de idade avançada, sempre teve uma idade avançada, que vivia em frente à casa do meu pai.

Nunca soube quantos anos tinha, sempre foi velha, velhinha. Tinha o olhar de quem vive com carne, pele, coração, ossos, memórias, infernos, lágrimas, dentro da vida. Que carrega tudo isto e muito mais de forma estóica. Como quem sabe de cor os sintomas e consequências de uma doença prolongada e fatal.

Nunca lhe ouvi a voz, nem ela a minha. Mas nos olhos dela aprendi isto: que com o passar do tempo, com as rugas, as quedas, o medo acumulado, a velhice vem sem mágoa, e as pessoas que vão passando por nós vão deixando cada vez mais delas, sem no entanto levarem tanto de nós.

Dona Teresa. Dona Teresa. Quem me dera a mim um dia envelhecer tanto e tão bem como ela. Quem me dera saber hoje e agora, o que é realmente isso de se envelhecer sem ressentimento, sem arrependimento, sem balbúrdia e turbulência no sitio onde se escondem as emoções.

Dona Teresa. Os seus olhos eram um ecrã de um filme. Do filme da vida dela. Dona Teresa, que eu já não sei onde está, que morreu muito provavelmente, que tem dias em que me faz falta encontrar os olhos dela atrás da janela para reaprender o Sol, as horas e o perdão. 

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