23 setembro 2011

Iniciar uma guerra ou O dilema dos Srs das Grandes Potencias Mundiais

hoje estava capaz de iniciar uma guerra. uma qualquer, cheia de importancia, pontos de vista revolucionarios e reinvindicações bem argumentadas, ou então não. Ou então uma guerra sem fundamento nenhum, só porque sim, só porque o Sol se vai esconder e as folhas vão começar a cair que nem tordos e a encher os passeios de tapetes crocantes que fazem "crsh-crsh" quando passamos.
não consigo decidir se a guerra seria fria ou quente, se teria morteiros ou cravos, se existiria sangue arrebanhado ou recibos verdes a voar pelo ar. não sei sequer se queria que fosse uma coisa organizada, com cartazes e megafones, ou uma coisa solitária, só eu no meio da praça do rossio a repetir baixinho de mim para mim: Hoje começou a guerra!
gostava de envergar orgulhosamente uma camisola do PC, ou vestia as calças de ganga mais desbotadas e rasgadas e uma qualquer t-shirt básica enfiada a pressa entre os braços? não sei. mas julgo que seria a mesma coisa, ou não, e então teria um problema entre mãos.
tenho a certeza que hoje acordei com esta sede diabólica de iniciar uma guerra. não estou segura de como isto foi acontecer, mas estou quase certa que foram os pratos todos da cozinha que levava empilhados no tabuleiro e que se estatelaram no chão sem qualquer aviso, e me deixaram o cerebro e a alma assim, em polvorosa. terão sido as noticias, cada vez mais deprimentes? ou o café que bebi, paguei e estava queimado? caramba, que dilemas estes...
não compreendo como podem os Srs das Grandes Potencias Mundiais declarar guerras assim, por dá cá aquela palha, isto é complicado de se decidir. não bastam as pessoas envolvidas, ainda há que pensar nas armas, no local, nas baixas, na vestimenta, nos mantimentos, na duração! credo...a duração!
como se decide quanto tempo merece alguém ver a luz do sol? quantos abraços da familia merece aquela criança antes de ser levada para o cu do mundo (na melhor das hipoteses)? quanto tiros se hão-de disparar até que se chegue à conta certa? quantas vidas e durante quanto tempo as havemos de torturar? como se resolvem as questões traumaticas, as casas em chamas, as ruas escavacadas, as lágrimas estendidas como cuecas no estendal no roupa, os braços quebrados e os corações esquartejados?
são questões que a mim, não me assistem. não as entendo. não as visualizo ou foco.
aqui, na minha casinha a beira mar plantada, debato-me com esta coisa de iniciar uma guerra e todas as burocracias que a envolve, e simplesmente não consigo, passa para lá do aceitavel, do imaginavel.
aqui está quentinho, sabem? acabei de comer uma maravilhosa refeição que vi o Jamie Oliver fazer na SicMulher, e banqueteei-me com uma torta de frutos silvestres logo a seguir. tive ainda o prazer desmesurado de me pespegar à janela a fumar um cigarro e para culminar, li 3 histórias ao meu filho e adormeci-o com festas no cabelo. no final ele ainda me disse: gosto muito de ti, mãe!, imaginem-me esta loucura!!
ando agora ás voltas com a minha mente tresloucada a pensar na minha guerra, aquela que eu queria tanto iniciar hoje. que me perseguiu os pensamentos todo o dia. que me revolveu as visceras, que tantos dilemas e dores de cabeça me causou, e ufa!, que canseira!
sim, é de facto fácil e simples pensar nisso, julgar que temos todas as justificações, todas as ideias feitas no lugar, todos os passos estrategicamente planeados.
o dificil...o cobarde...o pedante...o idiota e tão brutalmente ofensivo, é julgar que a podemos levar adiante com o nariz apontado para o céu, para todos aqueles que a sofreram na pele, que a rasgaram e arrancaram das suas próprias casas e familias, enquanto nós, os "Srs das Grandes Potencias Mundiais" estamos confortavelmente sentados no sofá a ver a Oprah e o Dr.Phil, o Biggest Loser e os 30 minutos com Jamie Oliver, com os nossos filhos, amigos e restante familia a dormir profundamente no quarto ou casa ao lado, e julgamo-nos em pleno direito a decidir quanto vale a vida humana.

"the answer my friend, is blowing in the wind..."

1 comentário:

  1. Olá, amei este texto, e outros que li neste blog. Também sou candidata a escitora (por enquanto meus filhotes ficam escondidinhos no pendrive, alguns arriscam-se a ir a algum concurso literário ou páginas de sites. Identifiquei-me com tua escrita, inclusive tenho uma crônica sobre guerras. Fico feliz que vás já publicar teu primeiro livro e torço para que, doravante, enchas a boca e diga: SOU ESCRITORA. Para mim já és.
    Abraço fraterno
    Vera - São Paulo - Br

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