Quando a manhã nos traz vendavais por trás da janela fica-se assim, muito quieto, a ver as árvores aflitas numa dança preocupada. Não se chega nunca a compreender se o que pretendem é desprender-se da terra que as aprisiona ou se é o desejo de nela permanecer, serenas, seguras, possantes.
Fica-se assim, meio confuso, meio pasmado. Meio triste, meio encantado. Urgem pavores dentro do corpo, vontades antigas de partir, de descobrir um nome de entre tantos nomes que à força de os repetirmos perdem sentido.
Sabe-se pouco daquilo que a pele significa, se o toque é quente ou gélido, macio ou áspero, suave ou rude, se alguma destas características querem dizer alguma coisa e se essa coisa tem alguma importância.
E enquanto se debate o vendaval lá fora permanecem questões que prometem horas de pandemónio emocional.
As pessoas onde estão? Para onde se viram os seus olhares? Que mãos seguram? Que emoções ainda as incomodam? De que é feito o amor que têm umas pelas outras?
Ao vendaval, tarde ou cedo se junta a tempestade. Chuva grossa que quando cai no alcatrão faz muito mais ruído que uma porta a bater. Reminiscências de pessoas que também elas, ao tombar, fizeram muito mais barulho que um prédio a ruir. E doem essas almas, doem mais e mais de todas as vezes que o rugido do vento não nos deixa descansar. Que nos obriga, apesar de só querermos um pouco de paz, a repor memórias, a racionalizar emoções, a calcular futuros, a deixar de querer.
Deixa-se a tempestade com uma mão pousada no rosto e outra no peito, com pesar por não existir um abraço que pudesse durar o resto das horas que, de tempos a tempos, nos queríamos permitir a dedicar aos que o vendaval levou.
Olá Beatriz aproveito para deixar o comentário ao seu livro, espero que aprecie.
ResponderEliminarhttp://efeitodoslivros.blogspot.pt/2013/01/gente-com-gente-dentro-de-beatriz-gil.html
Entretanto, também já enviei uma entrevista para a Alfarroba - espero que goste e que lhe sejam interessantes de responder.
Até mais
Efeitocris