10 junho 2011

E Elas a Gostar

Sabem que mais? Eu até gosto deste meu banquinho. Tem uma vista engraçosa para o lago dos patos e o Sol, quando bate, não é tão forte que me cegue as vistas, nem tão frio que me gele os ossos cansados. Tem uma tábua meia saída do lugar, lá lhe saltou um parafuso e aquilo durante a noite, ás vezes, espeta-se-me na coluna e ando ás voltas madrugada fora a ver se apanho o jeito á coisa. Está meio velhote, lá isso é bem verdade, mas a bem dizer já cá anda há tantos anos e os pombos gostam de vir fazer uma visita volta e meia.
Aqui do meu banquinho tenho uma vista privilegiada sobre o rio, aposto que nenhum desses emproados vestidos á pinguim o ano inteiro têm uma vista desta categoria para lhes alegrar as manhãs. Lá devem gastar rios de carcanhol naqueles quadros manhosos que vendem nas galerias da rua de baixo, com paisagens das ondas a bater nas rochas num mar que nem sequer deve existir. Eu cá nunca vi um mar assim, e olhem que já tenho alguns anos de escola nesta vida de marca o passo. Mas enfim, como a Antonieta ali do banco mais a baixo diz, cada um sabe de si e deus sabe de todos (eu cá não me fiava nisto, mas ela lá sabe o que diz, e a bem dizer eu já só digo parvoíces para passar o tempo morto, há quem faça palavras cruzadas, eu cá gosto mesmo é de dizer baboseiras!).
Isto aos fins-de-semana fica uma animação! Eu cá gosto de ver a juventude a cirandar por aqui, dá mais vida às horas e eles dizem com cada uma que, às vezes, até parecem duas! A única chatice é o cheiro que fica no dia a seguir, há alguns que se vomitam todos e mijam-me as pernas do banco, mas com isso posso eu bem, e sempre fico grosso sem gastar um conto de reis, que eles lá me acham piada e me vão pagando umas vinhaças para animas as hostes.
O que eu acho mal é o espectáculo das beijoqueiras que às vezes se dá por aqui, andam todos enrolados uns com os outros e os mânfias, de fala meia entaramelada, a dizer às moças que as querem comer. Ora que eu cá não percebo nada destas dietas hoje em dia, mas comer uma rapariga não me parece lá muito adequado, até porque os paizinhos das meninas de certezinha que ficam fulos com a coisa. Mas elas até que parecem gostar e lá vão com eles rua a baixo para detrás do muro fazer coisas estranhas, nem lá quero ir ver, só de imaginar as meninas com um braço a menos, fico meio zonzo com o enjoo. Mas vem de lá muito barulho, lá isso é verdade, os rapazecos nem cuidado devem ter, lá lhes arrancam os dedos dos pés á força e elas ficam-me naquela gritaria não sei quanto tempo, e depois quem não dorme sou eu!
Mas regra geral até se está bem por aqui, não me chateiam muito e volta e meia lá me trazem uns restos de costeletas (que é como quem diz os ossos) para eu roer, vocês nem imaginam como é saborosa aquela carninha de dentro. Quando era miúdo era muito esquisitinho realmente, com a gracinha do senhor! Aquilo é que é um pitéu! Já me dizia a minha santa mãe que em casa onde não há pão, até as migalhas vão, e não é que as migalhas sabem bem com’ó catano?
Só tenho saudades de tomar uma banhoca daquelas que duram a manhã inteira, até se ficar com as peles dos dedos meias encarquilhadas. Sabem, aquela coisa de termos a água a escaldar em cima da cabeça, até se nos ficam as ideias mais claras.
Pois claro que é por isso que ando com a cabeça feita em puré, a pensar que durmo num banquinho confortável, que tenho vistas privilegiadas sobre a cidade, e que o que os moços vão fazer para trás do muro é comer as raparigas, quando a verdade é que vão fodê-las sem dó nem piedade, e elas a gostar, as desgraçadas. E elas a gostar! (pelo menos é isto que me conta a Antonieta ali do banco mais a baixo, e eu acredito, pois claro que acredito (Ela tem vistas privilegiadas para trás do muro, sabem?)

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