27 junho 2011

Sobre ser-se mãe

Para se ser mãe é preciso uma quantidade inesgotável de altruísmo. É preciso ser-se paciente e amar todas as insignificancias.
Para se ser mãe é preciso acordar e deitar com um sorriso estampado no rosto, e os dias maus têm forçosamente que deixar de existir.
Temos que agarrar o coração para que não nos caia, e esquecer o que era a vida antes disso.
Para se ser mãe, para o ser realmente, é necessário ter-se um amor á vida desmedido, acreditar na sua eternidade. Acima de tudo, querer essa eternidade.
É preciso saber suspirar e respirar fundo muitas vezes. Não perder as estribeiras, ser-se são e tolerar o intolerável.
Acredito que para se ser mãe seja necessário, em determinadas alturas, não ter um pingo de amor próprio e ter aprendido bem a lição da auto-anulação.
Para se ser mãe é preciso saber esticar as horas, saber-se dormir, desaprender a solidão e aceitar, repetindo muitas vezes, que nada voltará a ser como era antes.
Para se ser mãe não basta gostar da vida ás vezes, sermos felizes ás vezes, sorrirmos de vez em quando. Temos que ser felizes todos os dias, sorrir em cada momento e gostar da vida sempre. Implica olharmo-nos no espelho e saber que estamos a envelhecer muito, a uma velocidade muito para lá do aceitável.
Ser-se mãe não se pode colocar em "pausa" para pensar, chorar ou restabelecer da dor. A dor não tem lugar. Para se ser mãe há que ultrapassar tudo muito rapido e ser-se detentora de uma incrivel força interior.
Para se ser mãe é necessário saber mentir e acreditar nessas mentiras. Não se pode dar parte fraca, não se pode desistir, não se pode mudar de canal nem embebedarmo-nos até à 5ª casa.
Ser-se mãe só a tempo inteiro e só depois de o sermos.
Ser-se mãe só de coração nas mãos e visceras á mostra.

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