encontrar-te-ás sozinho à porta do delírio,
terás os cognomes da espera e o direito a votar,
comprarei um passe para visitar o museu das tuas obsessões,
saberás fazer-me voltar a horários fixos,
tirarei notas de rodapé com pormenores complicados e referências exaustivas,
farei esboços dos teus sorrisos,
apunhalar-me-ás com ideias universais e alegres
a caminho das coisas particulares e tristes,
sangrarei adjectivos ao modo superlativo, formas retóricas imprecativas
e estruturas paralelísticas,
deixarei as veias dos cárpatos abertas até encherem a tua piscina,
chamarás o segurança e dirás: isto não é hollywood, babe!,
aqui ninguém se suicida com uma overdose de felicidade,
não temos rottweilers a vigiar o sono das crias,
nem personal shopper para tratar as depressões,
terei o tamanho das minhas cicatrizes e as pestanas a fazer tim-tim-tim,
terás fome de mim,
prender-me-ás à cama como nos abraçámos às nossas ilusões,
subirei àquele comboio chamado desejo,
gritarás o meu nome de boca virada para a estação do prazer,
confundir-me-ás com as outras,
serei as outras nesse flutuar branco e veloz,
declinar-te-ei nas conjugações do passado,
desprezarás os volumes que imitam o contorno do meu corpo,
arrumarás num canto do mapa as ruas que levam a nós,
colocarás cartazes em cima dos destroços
enquanto um néon publicitário da boticario executará o papel do ocaso.
dois minutos antes de cair o pano, o director de som escolherá para o nosso fim
uma banda sonora na moda.
Golgona Anghel
...porque tem dias assim, em que as palavras dos outros reflectem tão bem aquilo que anda a deambular aqui dentro, que mais vale nos recostarmos, bebermos um fino bem sacado e nos deliciarmos com o incrivel que é essa coisa da empatia.
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