10 junho 2011

Gostava que me tivesses conhecido

Gostava de te ter conhecido noutro mundo, num sitio bonito com pedras de mármore onde descansar.
Gostava de te ter dito no meio da chuva, que embora não me ouvisses devido ao som das pingas a restolhar no chão, eu estava ali e dizia que gosto de ti.
Gostava que me tivesses conhecido antes de tudo. Antes do desastre, da perdição, do esquecimento, da balburdia. Para que te pudesse mostrar como gosto de sorrisos e em como adoro a minha gargalhada estridente, aquela que tu nunca ouviste porque não te conheci nesse antes do antes sem corda bamba, sem amarras, sem pernas e braços partidos.
Gostava de te ter levado à boleia a conhecer esse mundo fora. De te ter levado ao meio da floresta só para que pudesses tocar a tua guitarra e escutá-la como nunca antes o havias feito, porque o burburinho era infernal.
Gostava de te ter levado a dançar. Gostava que me tivesses conhecido quando todas as minhas horas eram passadas a dançar e em que a musica entrava em mim como uma labareda. Gostava que tivesses visto como antes os meus olhos chispavam vida.
Gostava de te ter explicado que a minha vivência era moldada pela vida em si, que a minha angustia era alimentada pela minha loucura, e que a minha loucura tinha tanto de saudavel como de insane. Só queria bater terreno.
Gostava que me conhecesses quando eu bebia dos olhos das aves e passava tardes encantada a olhá-las demoradamente, a adivinhar-lhes as viagens.
Gostava que me tivesses conhecido quando o amor ainda era bonito, quando tinha tudo para dar e tanto gostava e sabia receber. Quando acreditava na magia dos dias e quando queria salvar o mundo inteiro da solidão, da insatisfação e do caos.
Gostava que me tivesses conhecido menos egoista, menos amarga, menos desesperada, mais feliz.
Gostava de te ter conhecido quando eu ainda amava o mundo todo e julgava ser infeliz.
Gostava que me tivesses conhecido quando o sexo não era só sexo, mas quando o sexo era tão mais que apenas isso. Quando o sexo prometia um dia seguinte com borboletas no estomago e a tranquilidade de se ter tido prazer fosse qual fosse o desfecho.
Gostava que me tivesses conhecido quando eu não acreditava em desfechos.
Gostava que me tivesses conhecido (por hoje é tudo, e já é tanto!). 

2 comentários:

  1. É habito dizer-se que há um tempo para tudo...
    Será que o mesmo já disseram sobre ti?!?!?!?

    Abraço-te

    ResponderEliminar
  2. espero ser eu própria a começar a acreditar nessa coisa maravilhosa que é "o tempo certo das coisas" :)

    Escrevo-te*

    ResponderEliminar