30 julho 2011

Direito a votar

encontrar-te-ás sozinho à porta do delírio,

terás os cognomes da espera e o direito a votar,

comprarei um passe para visitar o museu das tuas obsessões,

saberás fazer-me voltar a horários fixos,

tirarei notas de rodapé com pormenores complicados e referências exaustivas,

farei esboços dos teus sorrisos,

apunhalar-me-ás com ideias universais e alegres

a caminho das coisas particulares e tristes,

sangrarei adjectivos ao modo superlativo, formas retóricas imprecativas

e estruturas paralelísticas,

deixarei as veias dos cárpatos abertas até encherem a tua piscina,

chamarás o segurança e dirás: isto não é hollywood, babe!,

aqui ninguém se suicida com uma overdose de felicidade,

não temos rottweilers a vigiar o sono das crias,

nem personal shopper para tratar as depressões,

terei o tamanho das minhas cicatrizes e as pestanas a fazer tim-tim-tim,

terás fome de mim,

prender-me-ás à cama como nos abraçámos às nossas ilusões,

subirei àquele comboio chamado desejo,

gritarás o meu nome de boca virada para a estação do prazer,

confundir-me-ás com as outras,

serei as outras nesse flutuar branco e veloz,

declinar-te-ei nas conjugações do passado,

desprezarás os volumes que imitam o contorno do meu corpo,

arrumarás num canto do mapa as ruas que levam a nós,

colocarás cartazes em cima dos destroços

enquanto um néon publicitário da boticario executará o papel do ocaso.

dois minutos antes de cair o pano, o director de som escolherá para o nosso fim

uma banda sonora na moda.


Golgona Anghel



...porque tem dias assim, em que as palavras dos outros reflectem tão bem aquilo que anda a deambular aqui dentro, que mais vale nos recostarmos, bebermos um fino bem sacado e nos deliciarmos com o incrivel que é essa coisa da empatia.

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