09 maio 2012

Mal agradecido

Ès um mal agradecido. Odeio-te. Tenho-te raiva. Tenho-te abandono, nojo e morte. E poeira e vidros partidos.
Ès um mal agradecido, já disse.
Andei de esfregona e vassoura na mão durante meses, a limpar, a esfregar, a aspirar todos os cantinhos e tu assentas arraial e só fazes bagunça, lixeira e basqueiro.
Comprei móveis novos, um sofá caríssimo para que te sentisses confortável.
Enchi o frigorífico e a dispensa, para que nada te faltasse.
Deitei fora cartas, diários e um número incontável de memórias, para que não te sentisses ameaçado, para que soubesses que este espaço agora era teu, que nele cabiamos os dois e mais ninguém.
Andaste a teu bel prazer por todas as divisões, não fechei nenhuma à chave, para que soubesses que não te escondia absolutamente nada.
 Disse-te onde podias encontrar tudo, desde o papel higiénico ao saca-rolhas, para que te sentisses realmente em casa.
Ès um mal agradecido idiota, pedante, estupido, insensível e ridiculamente bonito. Raios te partam, és mesmo bonito.
Agora ando às voltas com o coração em papas, não há esfregona nem vassoura que me valham porque de ti não sei como me esvaziar nem limpar.
Já disse e repito as vezes que forem precisas até que entendas aquilo que eu quero dizer quando te digo que és, sem duvida alguma, um mal agradecido.

3 comentários:

  1. Bolas, até dum tema banal fazes uma melodia poética... ;)

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  2. oh! muito obrigada minha querida! :) e não de coisas banais que é feita a vida? *

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  3. :) Sim, sim, é! Eu é que tenho a (infeliz?) tendência a juntar outras mais complexas à minha... ;)

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